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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Cantando pra dentro

Tem gente que é mais olfato e associa certos cheiros a determinadas situações ou pessoas. Eu não, eu sou da audição. Felizmente e infelizmente, eu tenho uma memória muito boa e basta uma palavra para eu ser imediatamente atacada por lembranças - às vezes boas, às vezes ruins - relacionadas a ela.

Com uma música apenas, eu posso reviver com precisão algum momento passado e com os sons vem a roupa que eu usava no dia, as conversas que eu tive, as pessoas que eu encontrei, os lugares aonde eu fui... às vezes acontece de algum som remeter até a algum pensamento que eu tive e aí eu consigo lembrar, sem esforço, que naquele dia no ônibus, a caminho da casa de uma amiga, escutando REM no mp3, eu fazia uma retrospectiva de toda a ansiedade, nervosismo e inquietação pelos quais eu estava passando até então e que aumentavam à medida que o quadro pintado há anos começava a se tornar mais nítido: passagens compradas, convites enviados, vestido e anel de pedra azul sendo retirados quase todos os dias das suas embalagens para serem olhados só mais uma vez...

Outro dia, já faz um tempo, eu acordei ouvindo uma música que nem faz o meu estilo e junto com ela, vinha um burburinho de gente que passava e um silêncio de rua sem carro. Antes de abrir os olhos, eu me vi de novo acordando na minha cama branco gelo pintada por mim, embaixo das prateleiras azuis e olhando para a janela enquanto refletia se valia a pena gritar para o vizinho abaixar o som do carro. Nunca gritei e ele nunca abaixou, ainda bem. Às vezes o dia aqui acorda igual a como costumava acordar lá e eu fico assim, inundada de lembranças.

Um comentário:

Nara disse...

Mãe Bea tem memória de elefante, tem sim!